ipec, guerra híbrida e os 44% de Bolsonaro

(algo que não esperava era que comentários políticos feitos com seja lá o que se tenha a mão no calor do momento ganhassem alguma tração. estejam pelo menos avisados da precariedade da tese e da exposição)

    Via de regra quando as coisas saem dos trilhos, e é surpreendente que ainda exista expectativa de que aconteçam ‘dentro da normalidade', os cidadãos preocupados, imbuídos de seus sentimentos cívicos, voltam-se para os especialistas, que a partir de novos dados formulam novas explicações e etc. Caberia pensar de que serve uma explicação, tanto agora, quanto em qualquer momento. "O desvio de dez pontos percentuais nas projeções dos votos em Bolsonaro se deu por X, onde X é um fator técnico relativo à amostragem Y ou metodologia Z.” 
    É essa ingenuidade que o agregado um dia conhecido como sociedade civil pode fornecer (aqui na periferia do capitalismo é impossível afimar com tranquilidade que ela existiu), mesmerizar-se, buscar mais dados, refazer seus cálculos. Não pretendemos com isso sermos refratários à ciência – tomando-a como parte críptica de uma metafísica escamoteada ou sobredeterminada pelos interesses da sociedade de classes, prática por vezes vulgar da filosofia crítica – não se trata tanto de subscrever ou não a um realismo científico aqui, em verdade não é de todo uma questão científica, mas uma instrumental cegueira política em relação ao que está acontecendo. Não parece ser exagerado sugerir  a seguinte explicação, bem menos trivial, de que a confusão foi mais uma bem executada manobra de uma base bolsonarista organizada, mobilizada para usar da informação como arma. (Não excluindo, claro, a possibilidade do uso da arma como arma.)


    Não descartemos que o voto em Bolsonaro é um voto envergonhado, porcamente escondido sob o manto da má consciência. E também mudanças de votos de última hora. O que essas explicações, legítimas em si mesmas, não levam em conta é a assumida disposição da nova direita internacional de explorar sistematicamente brechas do sistema democrático. Parece por isso mais importante apontar que fomos (estamos sendo) feitos de trouxas.

    
    Todo experimento é bem mais informativo quando dá errado. Não podemos exatamente dizer o mesmo da sedimentação e pulverização dos substratos históricos. Ok, a engenharia reversa da sabotagem bolsonarista às pesquisas eleitorais pode ser feita, mas isso não é a liçao da manhã de segunda de três de outubro de 2022. É do interesse do bolsonarismo que tudo de sólido se desmanche no ar,  o clima de desconfiança em relação às pesquisas aumenta.
    Coisas desagradáveis de se ouvir: ainda parece que o PT paga a conta de deslegitimar a revolta popular que irrompe no seio seu governo, trazendo a reboque o nova direita certamente, mas que não pode ser simplesmente equacionada a ela. E +, o futuro parece claro, a atomização completa da sociedade, empurrando parcelas cada vez maiores da população para o descampado, expostas à rapina da miséria, da guerra, das catástrofes ecológicas e sanitárias. O governo de Lula, se ocorrer, parece que não pode ofertar  mais que uma fina camada de proteção. (Esteja claro que sou eleitor do PT, que estarei engajado para a derrota do bolsonarismo nas urnas, isso não diminuí em nada a falta de perspectiva global de qualquer projeto anticapitalista ou mesmo social no momento.) 





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