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Finjo que escrevo um texto. As luzes estão piscando. Não existem mais textos a serem escritos, não existem mais acontecimentos para serem falseados. Sou já morto. O que exatamente estou fazendo? Congelado em algum momento, uma figura infeliz, patética. As luzes estão piscando. Em algum momento. Sou já morto. Fissura.

Música? Melhor não.

Morrer, apenas morrer,  apenas consumar o que já é verdade em meu íntimo. Como um organismo solapa sua própria felicidade tão naturalmente?  De repente tudo está turvo. Afogado. Eu eu eu eu eu eu eu eu eu eu: olho essa estrutura vazia, tento agir como se ela existisse, eu eu eu eu eu eu eu eu, tento agir como se fosse ficar tudo bem, infelizmente não temos como mudar nosso scrip de modo eficaz, perceba: não é possível trabalhar estando dentro da coisa.  As luzes estão piscando. O lustre da sala balança.

Não tenho como mentir se não sei o que está acontecendo. Não tenho como ajudar.

Finjo que escrevo um texto. A água. A água está turva. O som está... lento? Um zumbido nos ouvidos. Não posso ouvir sua voz. O monitor pisca junto com a luz. Você não parece conseguir me ouvir, de qualquer maneira estou apenas gritando o mais alto que consigo. Desligo os alto-falantes, o zumbido contínua. As luzes estão piscando. Pode ser um helicóptero, um avião qualquer coisa que passa lá fora, e nesse avião ou helicóptero existem máquinas que dobram a realidade, me deixam profundamente desolado. Apontar os canhões para o céu apontar os canhões para o céu, faça chover. A vida é seguramente pior que isso. As luzes estão piscando.







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