Dr. Fausto, Thomas Mann, Góticuzinho

  Nunca me esquecerei dessa cena. O recipiente de cristalização no qual ela decorria estava três quartas partes cheio de um líquido levemente viscoso, metassilicato de sódio diluído, e de um fundo arenoso tentava se erguer a grotesca paisagenzinha de uma vegetação de muitas cores, uma confusa flora de excrescências azuis, verdes, pardas, que recordavam algas, fungos, pólipos arraigados do solo, mas também musgos e ainda coquilhos, frutos, arvorezinhas ou galhos de arbustos, e em alguns casos realmente se pareciam com membros humanos. Era o que de mais esquisito vi em toda minha vida; esquisito não só por causa do aspecto realmente singular, desconcertante, mas sobretudo por causa da natureza profundamente melancólica dessa coisa. Pois, quando o pai Leverkühn nos perguntava o que pensávamos a respeito delas, e nós respondíamos timidamente que talvez fossem plantas, ele replicava:
  — Não, não são plantas, apenas fingem sê-lo. Nem por isso vocês devem menosprezá-las. Pois é precisamente isso a circunstância de elas pretenderem sê-lo e darem o melhor de si nesse sentido o que as torna merecedoras de todo o nosso apreço."




  Uma pesquisa na internet me diz que são jardins químicos, e são normalmente coisas que se faz para crianças, se você é um engenheiro químico no século XX, acho. A não, é algo comum, a solução aonde os reagentes são depositados é usada para preservar ovos, para que o ar não entre. São como as pinturas de Blake, Newton sentado no fundo do oceano,  no entendimento que as crian ças tem de ciência como mágica talvez resida mais verdade do que gostaríamos que acreditar. Freud precisa aterrar o Inquietante, aterrá-lo dentro de sua visão conservadora do ser humano, o indivíduo selado homeostaticamente, para o nosso bem fantasmas não existem, nem coincidências. Por que no entanto precisamos constantemente lembrar os vultos que nos cercam que eles estão mortos? "Selecione todas as imagens onde há algo correndo em direção a ambiguidade até coincidir com seu oposto"(unheimlich). A inútil diferenciação entre gente de verdade e algoritmos agora é uma questão jurídica. O inquietante, ou suas duas partes complementares, o estranho e o esquisito, são métodos para novas formas. Formas estéticas ou formas de vida? Perguntar isso é perder o ponto.
O video contém um professor amalucado, com uma avantajada cabeleira a lá Einstein, uma cientista deposita o que são produtos derivados de metais, parece, dentro dessa solução. A reação pode levar horas ou até dias até se completar, sobre o take final do aquário ela lê em off o mesmo trecho que selecionei. Algo dificilmente inquietante, certo? Os relatos de Primo Levi sendo levado do campo de concentração para trabalhar nos laboratórios nazistas e então de volta aos campos, precisavam de químicos oras. 

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