Mark Fisher: 2 fragmentos sobre pornografia, masoquismo, e tudo mais que a gente gosta


"O que Ballard, Lacan e Burroughs tem em comum é a percepção que a sexualidade humana é essencialmente pornográfica. Para os três, a sexualidade humana é irredutível à excitação  biológica; retire o alucino-fantasmático, e a sexualidade desaparece. Como Renete Salecl argumenta em (Per)Versões de Amor e Ódio “é mais fácil para uma animal adentrar a Ordem Simbólica do que um humano desaprender o simbólico e obter a animalidade, uma observação confirmada pelas notícias que, quando um orangotango foi presenteado com pornografia, ele cessou de demonstrar qualquer interesse sexual em seus colegas primatas e passava o dia inteiro se masturbando. O orangotango foi iniciado à sexualidade humana pelo “parceiro inumano”, o suplemento fantasmático, do qual toda sexualidade humana depende.
A questão não é, então, se pornografia, mas qual pornografia? Para Burroughs, a pornossexualidade seria sempre uma repetição miserável, um carnaval Boshiano negativo no qual a roda-gigante do desejo gira pra sempre em ciclos desolados. Mas em Ballard, e na versão de Cronenberg de Crash de Ballard, é possível descobrir uma versão da pornografia que é positiva, até mesmo utópica. “



"A perversão masoquista consiste na recusa de um foco exclusivo ou até mesmo primário na genitália ou na sexualidade mesma em seu sentido Sádico e polimórfico, que é perversa apenas em um sentido bastante degradado. O Imaginário sádico rapidamente atinge seus limites quando confrontado com o número limitados de orifícios o organismo tem disponível para a penetração. Mas o masoquista — e Newton nesse aspecto, como em muitos outros, é um masoquista ferrenho, assim como Ballard — distribui libido por todo cena. O erótico está localizado em todos os componentes da máquina, seja arame farpado — a pressão suave da carne — ou a investida de um animal morto— o casaco de peles — ou técnico. Masoquismo é o cibererótico, precisamente por que não reconhece nenhum distinção entre o animado e inanimado. Afinal, quando você corre os seus dedos pelos cabelos de seu amado, você está acariciando algo morto."

Mark Fisher

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