Rádio-Eu

devem ser 2h da manhã estou deitado sobre um colchão de ar, dia 31 de dezembro, faltam 22h para a “mudança da década”, experiencio o que pode ter sido 1h ou 2 minutos de Rádio-Eu, fragmentos de musica e instrumentos que surgem, não a partir do nada, mas negociadas com o exterior, o ventilador formava o ataques dos violinos que faziam uma espécie de cama para uma banda de jazz parece, com alguma formação que deveria ser bem heterodoxa, a Rádio-eu é bem kisch, eu não sonho com barulho, curiosamente. ‘The best option relies on relating individual sounds to a continuous ‘master sound’ which, as it were, defines something analogous to space.’ leio isso 4 dias depois em um verbete da Encyclopedia de Standford sobre Frederick Strawson. Quando aconteceu a Rádio-Eu deveria ser um dos poucos momentos nos últimos 3 dias em que eu não estava sobre efeito de alguma droga. Ou de menos droga. A sobriedade já não existe, pelo menos não enquanto algo que possa ser reduzida ao não consumo de substâncias, ela é uma linha que se dissipou nos remedinhos psiquiátricos, uma nostalgia perdida por um passado onde as coisas eram sóbrias só olhando retrospectivamente, a questão cyber-punk sobre isso tudo é que mesmo antes eu já era um monte de carne sustentado por processos químicos e elétricos.  Drogas, vícios e fetiches. Nada disso te “tira de você”, ou te conduz a sua verdade, a face de Deus, essas coisas são justamente a reprodução da sociedade, do capital, todo mundo quer fugir. Faz uns anos que notei a Rádio-Eu, mas consigo me lembrar dela acontecendo até minha pré-adolescência, fiquei muito surpreso quando descobri que meus outros amigos músicos não tinham o mesmo sonho que eu, ou semi-sonho acho. Não tenho nenhuma explicação religiosa ou transcendental para o fenômeno, acredito mais que seja uma sedimentação da super-exposição a industria cultural e que de alguma maneira todos nós teríamos acesso a essa rádio subconsciente de composição instantânea, ela poderia ser acessada através de determinadas técnicas de hipnose, ou talvez seja já isso que está acontecendo todos os dias. A questão é, como provar a existência da Rádio-Eu para um terceiro?

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